Considerando a
importância histórica dos últimos acontecimentos envolvendo a onda de protestos
que se espalha pelo país, bem como suas mais diversas motivações e a
pluralidade de objetivos, o Diário de Um
Advogado Trabalhista entendeu por bem não se furtar perante o debate, e,
através deste escriba quem mais de 10.000 assinantes empresta alguma
credibilidade, tentar compartilhar sua visão, ainda que sujeita a reprovações.
Pois, então. Os
detalhes das manifestações, o ritmo das marchas, quem está participando, muitas
das reivindicações que vão além de R$ 0,20, creio que grande parte dos
brasileiros tomou conhecimento e estão acompanhando, sendo desnecessário, até
este momento, exigir parte preciosa do seu tempo de leitura com fatos notórios.
O que causa grande espécie é o fato dos políticos se
dizerem atônitos e não identificarem os pontos centrais da insurgência popular,
e que, nesta circunstância lhes parece difícil criar uma agenda de governo (nas
diversas instâncias da Federação) apta a negociar a solução dos problemas.
Sério. Soa como cinismo.
Qual político de
São Paulo, não sabe que a população local há muito está insatisfeita com a
escalada dos índices de violência, desde o segundo semestre do ano passado? Todos
aqui sabem.
É quase cotidiana a
produção de matérias jornalísticas relatando acerca das precárias condições do
atendimento público de saúde e da insatisfação da população usuária destes
serviços. Parece que desconheciam.
E a educação? Quem
não sabia? Mormente organismos ligados à ONU alertarem tratar-se de uma das
piores do mundo, inferiores a de muitos países africanos e da América Latina?
E a piada da inflação
de somente 6,5% nos últimos 12 meses?
Amigo leitor, você
sabe (ainda que intuitivamente), foi só isso mesmo? Acham que não percebemos?
Será que não sabiam
que o Ministério Público, num país tomado de impunidade, é uma das poucas
instituições que possuem credibilidade no combate à corrupção e crime
organizado? Não sabiam que a PEC nº 37 era impopular?
Que tal submeter a
PEC nº 37 a plebiscito popular?
Ignoravam, também,
que o fato de deputados condenados no processo do mensalão serem justamente os
mesmos designados para a Comissão de Constituição
e Justiça da Câmara Federal - diga-se de passagem, uma das mais importantes
e estratégicas da Casa – e que isto pode se configurar um despeito indelével?
Que esta mesma
Comissão de Constituição e Justiça - por tais signatários - ousou aprovar o encaminhamento
de uma PEC que submetia as decisões do STF (órgão que os condenou) à
ratificação do Legislativo? Acharam que a população não foi informada disso?
E a Comissão de
Direitos Humanos? Presidida por quem não é reconhecido (nem quero mencionar o
nome do sujeitinho) pelo povo para este mister, e que lá somente é mantido em
nome de alianças governistas alheias ao desejo da maioria.
Caramba, a seca no
Nordeste está dizimando pessoas, plantações, criações de gados e a economia
local, e até já foi matéria no Fantástico que as obras de transposição do Rio
São Francisco há muito estão paralisadas. O Sertanejo é vara que entorta, mas
não quebra!
Quantas obras de
mobilidade urbana, mesmo para a Copa de 2014, não foram e não serão cumpridas?
E por falar em Copa
do Mundo, é distorcida a idéia propagada no sentido de que muitos dos
manifestantes queriam que os investimentos da Copa fossem endereçados à
educação e saúde. Poderia ser, legitimamente, porque foi prometido que as obras
seriam bancadas pela iniciativa privada, e não foi.
E aí, depois de
estarem lindos, acabados e funcionando, estes mesmos estádios são transferidos para
entes privados a custo ínfimo. O meu, o seu, o nosso dinheiro! Quem nos
consultou?
Veja o que
aconteceu com o Maracanã! Bilionário, desfigurado em sua arquitetura interna
que era ímpar, e, entregue quase de graça justamente para um dos que mais tem
dinheiro no país. O Governador de lá não entendeu ainda que enterrou seu
capital político junto aos cariocas? Em qualquer boteco de lá todo mundo sabe!
Mas não é este o
cerne da insatisfação que estamos presenciando. Perceba amigo leitor, o que os
manifestantes querem, é que haja o mesmo compromisso, agendamento, e prazos
rigorosos - por parte da União, Estados e Municípios – para transformar os hospitais
e escolas públicas em instalações prestadoras de serviços dignos, e nem tanto
quanto se transformaram nossos estádios.
Ninguém é contra a
Copa e lá no fundo queima bem quentinho o amor pela seleção nacional. Faz parte
de nossa identidade cultural gostar do futebol, e mais ainda se for num
ambiente de primeira.
“Vamos chutar o seu
traseiro” disse a FIFA – LITERALMENTE - ao governo brasileiro caso não
cumprisse os prazos agendados para o andamento das obras dos estádios.
Ora bolas! Os
brasileiros estão gritando! E tome porrada!
E a vaia
presidencial na abertura das Copas das Confederações?
Clima de festa,
tudo organizado e as bombas estourando na moringa dos manifestantes do lado de
fora. Acha mesmo, que a elite que estava dentro não iria reclamar, nem que
fosse para reclamar do “barulho” estranho que atrapalhava a festa?
Todo mundo sabe que
no âmbito das Prefeituras pelos cantos do país, a maioria dos trabalhadores
municipais é admitida primeiramente pelo fato de serem cabos eleitorais dos
prefeitos eleitos ou apadrinhados pelo mesmo. Está no DNA da vida local e tal
prática nunca teve a aprovação da população. Não sabiam?
Ah! E os tais R$
0,20. Se o transporte em São Paulo valesse R$ 3,20, ninguém iria reclamar. É a
cidade mais rica do país. O problema é que o sistema de transporte implantado
há décadas tripudia do passageiro, não transporta gente, no máximo “acomoda a carga”.
Não vale sequer R$ 1,20.
Esta retórica de
que é preciso definir as pautas a serem debatidas com os manifestantes é uma
manobra antiga que visa tão somente aprisionar e engessar o debate, ou seja,
trazer um sentimento popular para a esfera simplista e burocrática, e que pode ser adotada em
qualquer palanque por qualquer partido.
Não vejo,
sinceramente (e vou me retratar se estiver enganado), vontade de resolver o
problema dos manifestantes, que são muitos. Vejo vontade de se apropriar deste
sentimento num projeto de poder qualquer, mais um, de qualquer partido. Só
isso.
O que eles talvez
não tenham conhecimento, vocês amigos leitores, tenho certeza que sim.
Que os políticos brasileiros de um modo geral prestam
serviços de péssima qualidade.
Em Tempo: E se vocês acham que os políticos sempre foram de baixa qualidade, entendo que não. Leiam este texto que escrevi há muito e entenderão por que: O preâmbulo da Constituição por Ullysses Guimarães. A verdadeira mens legis do Constituinte.
O que está surgindo
das ruas – noves fora as depredações e violência - é um bom começo.
Finalmente,
entendendo que todas as idéias dos manifestantes estão sendo exteriorizadas de
maneira difusa, quero deixar claras três premissas quais nortearam este artigo.
1ª) Nada justifica a violência, quanto mais a gratuita.
Nada mesmo. A força somente deve ser usada em legítima defesa e em progressão,
na devida proporção da agressão que se pretende evitar. Saques, roubos e depredação
de patrimônio, público ou privado, são crimes e devem ser tratados como tais.
2ª) Não adianta procurar uma interpretação
dúplice. Nada neste
artigo, embora em alguns momentos possa parecer, tem viés ideológico do ponto
de vista partidário.
3ª) Estão implícitas, estas sim e o
tempo todo, as desculpas que devo aos fiéis leitores que buscam neste espaço enriquecer
seus conhecimentos do ponto de vista do Direito do Trabalho, ou mesmo um
lugar com esta pertinência temática para saber seus haveres trabalhistas, e que
porventura no momento deste artigo se sintam incomodados ou mesmo
decepcionados. Afinal, estou entregando o que não propus.
Para
estes, gostaria de dizer em quase três anos do Diário aprendi que um Blog antes
de tudo deve ecoar o sentimento pessoal do Blogueiro, e que neste momento está
impossível de segurar a vibração de idéias nesta cuca. Quero botar para fora.
Prezado,
ResponderExcluirParticipei do movimento dos "cara pintadas", e ao passar a fase da empolgação, continuamos com os mesmos políticos. Precisamos é nos envergonhar ao eleger "estes" que estão nos patamares políticos. Precisamos de honestidade e punição aos desonestos.